segunda-feira, 22 de março de 2010

(III)
O PASSE - SEU ESTUDO
Jacob Mello
É preciso confessar, entretanto, que não garimpamos sozinhos; contamos com muitas ajudas, de todos os níveis e de todos os "planos". Todas, sem exceção, foram valiosíssimas; mesmo aquelas que, de momento, não conseguimos entender, fossem por estarem além de nossa capacidade de tirocínio ou por extrapolarem os largos limites de nossa imperfeição. Por isso mesmo, todos os méritos deste trabalho são dos Espíritos (encarnados e desencarnados) que - na pessoa dos vários autores consultados, dos amigos que sempre vibraram por nós outros, dos familiares e companheiros que aturaram nossa "teimosia por escrever um livro", dos críticos que escolhemos (e aqui
queremos fazer uma ressalva especial para citar a estimada confreira Sarah Jane, pois, devemos a ela uma gratidão enorme, pelo seu empenho e destemor, inteligência e seriedade, estudo e atenção, sem o que esta obra estaria incompleta e com limitações) e dos que se escolheram, dos irmãos que apreciaram os rascunhos e os originais, orientando-nos, todos, com suas judiciosas ponderações, daqueles que tenham tentado
nos deter ou atrapalhar nossa manifesta intenção de concluir tal trabalho, e dos que nos ajudaram direta e indiretamente, de forma reconhecida ou anonimamente - só contribuíram para a ocorrência de tudo de bom que aqui se encontre.
Entretanto, queremos registrar, explicitamente, que é do autor, e só dele, de maneira indivisível e absoluta, todo e qualquer ônus que pese por quaisquer equívocos, indelicadezas, desvios ou colocações menos felizes que, porventura, sejam ou venham a ser localizadas nesta obra, pois, temos certeza plena de que se tal se der terá sido por exclusiva pequenez deste menor dos menores irmãos de Jesus, deste que se reconhece
como um dos mais modestos dos discípulos de Kardec.
Jacob Luiz de Melo
Natal (RN), outubro de 1991.

CAPÍTULO I - O PASSE - DEFINIÇÕES
“A mediunidade é coisa santa, que deve ser praticada santamente, religiosamente. Se há um gênero de mediunidade
que requeira essa condição de modo ainda mais absoluto é a mediunidade curadora” - (Allan Kardec)2
É fora de dúvida que nenhuma Ciência pode ser bem entendida quando não se busca, antes, o conhecimento de sua base, de seus fundamentos. Sendo o Espiritismo, de fato e por definição, uma Ciência e como tal estabelecida por seu insigne Codificador, compete-nos buscar-lhe os princípios para não vagarmos em raciocínios periféricos quando nosso propósito é o do conhecimento coerente. Os conhecidos “fatos espíritas”, hoje denominados “fenômenos mediúnicos”, ao lado da aplicação analisada e estudada do Magnetismo, foram os propiciadores da parte cientifica da Doutrina Espírita. Allan
Kardec, entretanto, não se limitou a observá-los e estudá-los com profundidade; a partir daí, ele compôs todo o arcabouço teórico e prático do Espiritismo. Desde então tornou-se inconcebível estudar-se a mediunidade sem sedimentar alicerces nos registros kardequianos. Tal tentativa equivaleria a se querer edificar uma construção de grande porte sem antes certificar-se das condições do solo nem cuidar da robustez de suas fundações. Afinal, sem base sólida e robusta não há construção segura. Decorrentemente, o presente estudo sobre o passe, o qual é uma das mais usuais derivações práticas da mediunidade e do magnetismo na Casa Espírita, para ser coerente e consentâneo com a Doutrina dos Espíritos, estará revestido de grande cuidado quanto a sua fundamentação doutrinária. Não queremos fugir da figura evangélica que lembra ser prudente o homem que constrói sua casa sobre a rocha para assim suportar a chuva que cair, os rios que transbordarem e os ventos que sobre ela se abaterem3. Daí iniciarmos por Allan Kardec e seu Pentateuco, símbolos maiores da sólida rocha doutrinária do Espiritismo, e com ele seguirmos até o fim da obra.
Na síntese em epígrafe, é inequívoca a seriedade com que Kardec se postou ante a “mediunidade curadora”. Tanto assim que a ela se refere como uma “coisa santa”, claramente ressaltando a nobreza de caráter da qual deve se revestir todo aquele que se disponha a esse verdadeiro labor divino, a fim de agir, em todos os momentos, “santamente, religiosamente”. Mas, caráter nobre é formatura adquirida nos modos e
hábitos diários e não apenas em certos momentos, quase sempre vivenciados na esporadicidade de fundo imediatista, interesseiro ou comodista Conscientes dessa posição, podemos analisar inicialmente alguns aspectos que dizem respeito as definições e menções que adiante iremos apreciar. Isso porque não foi normalmente sob o nome passe, mas, via de regra, como “dom de curar”, “mediunidade curadora”, “imposição de mãos”, que o Codificador se referiu ao assunto em estudo. Além disso, em diversas ocasiões tratou deste tema nominando-o, genericamente, “magnetismo”, ainda que nessas oportunidades não deixasse dúvidas sobre que tipo de magnetismo4
se referia.
Na definição de mediunidade curadora dada por Kardec (é gênero de mediunidade que “consiste, principalmente, no dom que possuem certas pessoas de curar pelo simples toque, pelo olhar, mesmo por um gesto, sem o concurso de qualquer medicação”5), já se percebe a abrangência com que ele tratou a matéria
Uma outra verificação bastante comum é que, se formos analisar enciclopédias e dicionários, notaremos que nem todas as referências existentes são em relação ao passe (no singular), que é a maneira usualmente empregada tanto no meio Espírita como na literatura espiritualista em geral, mas, preferencialmente, aos passes (no plural).
Importa ainda considerar que o termo “passe” tem significados distintos. Inicialmente era o passe apenas o nome dado ao gesto (ou ao conjunto destes) com fins de se movimentar “eflúvios”. Depois, entendido como atividade de cura, generalizou-se como a própria política da cura. No entendimento Espírita, ora é evocado como um, ora como outro sentido. Apesar disso, na maneira como venha a se empregar o termo, passe tanto pode ser entendido como uma terapia espírita, como uma parte do magnetismo, como
uma técnica de cura ou ainda como o sentido genérico da “fluidoterapia”.
Isto posto, vamos às definições, menções e equívocos que envolvem nosso assunto, advertindo antecipadamente que limitaremos tais abordagens pois ao longo da obra surgirão muitas outras oportunidades para novas citações, das mais variadas fontes.
2 KARDEC, Allan. Daí gratuitamente o que gratuitamente recebestes. In: “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, cap. 26,
item 10.
3 Mateus, VII, vv. 24 e 25.
4 Trataremos do assunto com mais detalhes no capítulo VIII - As Técnicas.
5 KARDEC, Allan. Médiuns curadores. In “O Livro dos Médiuns”, cap. 14, item 175b.
(ESTA PAGINA SERÁ MODIFICADA SEMANALMENTE)

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