sexta-feira, 12 de setembro de 2008




A prevenção de Drogas à luz da ciência e da Doutrina Espírita
Rosa Maria Silvestre Santos
Prevenção de droga na família
A forma poética e simbólica de Lídia Aratangy no seu livro Doces Venenos, mostra claramente o papel da prevenção na família e escola, quando relata a história da Bela Adormecida. Na realidade, se o rei, ao invés de proibir todas as rocas de fiar do reino, diante da maldição da bruxa, contasse para a princesa, desde pequenina, dos riscos que ela corria, poderia mudar esta história e ela não seria atingida pela maldição. O mesmo ocorre com as drogas, se a família e escola falarem naturalmente de drogas, desde a tenra infância, as crianças cresceriam convivendo com colegas que usam, sem morrerem de curiosidade e desejos. Lídia coloca que a mesma atitude se toma diante do sexo, doenças e outros assuntos polêmicos.
Lídia comenta também neste mesmo livro sobre o fascínio do Conde Drácula, representado pelo ator Cristopher Lee, no filme "Vampiro da Noite". Sábiamente, compara a sedução do vampiro à sedução da droga. O Conde Drácula, com aquela sua beleza, fazia com que as pessoas se apaixonassem e não resistissem, mesmo sabendo que estariam correndo sérios perigos.
Ocorre o mesmo com jovens e adultos, porque ao entrarmos em contato com nosso mundo interno, imaginário e desconhecido, podemos estabelecer um vínculo muito forte com a droga, (sensação vivida pelas pessoas que "bebem socialmente" e "fumam" ou usam "medicamentos"), tendo sempre em vista que 15% da população tem predisposição genética, como também resquícios de suas vidas passadas.
Indiscutivelmente, todos os especialistas e estudiosos dos problemas relativos ao uso de drogas, acreditam que o melhor combate é a prevenção. A UNESCO, desde 1972 destacou a necessidade universal de se fazer um investimento na educação para prevenir o abuso de drogas.
Prevenir significa dispor com antecipação, preparar, chegar antes. Em relação às drogas, pressupõe um conjunto de medidas utilizadas para impedir ou, pelo menos, reduzir seu consumo abusivo.
A maior dificuldade de um programa de prevenção reside na hipocrisia dos adultos, que fazem uso abusivo de drogas legais e se situam no "faça o que eu digo e não faça o que eu faço".
Bucher (1988) afirma que a primeira postura para se falar de drogas é abandonar preconceitos, tais como: "usou droga uma vez e já está irremediavelmente perdido" ou "a droga é a culpada dos males da sociedade..."
Os pais que tratam este assunto como um tabu fazem advertências dramáticas e aterrorizantes, criam um clima de suspeita, despertando a curiosidade e afastando ainda mais os jovens dos adultos. Falar com naturalidade e segurança é de boa política, procurando não mistificar a droga e integrando-a dentro de outros assuntos da vida cotidiana.
O grande dilema dos pais se refere ao que fazer para que seus filhos não comecem a usar drogas, ou para que deixem de usá-la ou ainda para que não voltem a usá-la.
As drogas podem causar grandes dramas. Segundo Bucher(1989), a atitude mais adequada em termos preventivos, quando a família constata o uso de drogas pelo filho é: não abafar, não castigar e não condenar; procurar saber o nível de comprometimento, melhorar as relações dentro de casa e procurar ajuda especializada.
A família precisa repensar seu papel, suas relações, não usar de autoritarismo nem de liberalismo, mas ser uma presença firme e flexível, sabendo usar de sua "autoridade".
Até a família mais estruturada pode sofrer transgressões passageiras sem danos para o futuro e pode sobreviver muito bem, já que conta com modelos familiares sadios e boas relações entre as pessoas.
O trabalho preventivo não é monopólio de especialistas, mas responsabilidade de toda a sociedade: pais, educadores, profissionais de saúde, justiça, serviço social, e outros.
A concepção educativa de prevenção está centralizada nos seguintes aspectos: formação do ser humano; valores; motivações; estilo de vida isento de drogas; alternativas no campo do lazer; esporte e artes (desenvolvimento do potencial criativo) e ampliação da consciência integral (busca de transcendência).
Basicamente, a prevenção deve concentrar-se menos nos perigos e aspectos farmacológicos (por isso a informação é apenas um componente e sempre aparece contextualizada no cenário educativo) e enfocar mais a fase da adolescência, a busca da auto-afirmação, da auto-estima, o conflito dependência e independência, a transgressão, o conflito com a pessoa de autoridade, a dificuldade de enfrentar problemas e limites e a questão do prazer. A prevenção alerta sobre os riscos de tolerância e dependência e, principalmente, focaliza a responsabilidade pessoal pela opção a ser tomada.
A família espírita tem uma compreensão mais totalizadora do fenômeno droga. Nós acreditamos que existe um componente espiritual muito forte nesta predisposição do jovem para qualquer droga, visto que na adolescência o jovem assume algumas tendências de outras vidas, mas recebeu desde o planejamento de sua encarnação e deveria ter recebido na sua família, toda orientação para o seu aprimoramento espiritual.
Joanna de Ângelis acredita que o antídoto para o aberrante problema dos tóxicos está na:
Educação à luz do Evangelho sem disfarces nem distorções, desde à gestação.
Conscientização espiritual sem alardes
Liberdade e orientação com base na responsabilidade
Vigilância carinhosa dos pais e mestres cautelosos
Apesar de existir quadros desajustadores, não podemos culpar apenas os pais pelo desajuste do filho, o adolescente também tem participação ativa e consciente, ele intuitivamente sabe o que sua consciência diz, se tiver vontade firme pode exercitar seu auto-controle e auto-disciplina.

Joanna de Ângelis afirma que o adolescente faz a opção pelas drogas quando sente-se impossibilitado de auto-realizar-se, geralmente por causa de uma família-provação, porque foi desprezado em casa, não foi qualificado como ser humano, vive uma desarmonia psicológica e o seu mundo interno não está bem.
O livro” Família e Espiritismo” traz algumas orientações aos pais:
-Não penses que o seu lar será poupado;
-Observa o comportamento de seu filho, fique bem atento, e se o problema bater na sua porta: Não fuja dele - saia da cegueira familiar;
-Não desespere e nem seja hostil;
-Converse, esclareça, oriente;
-Busque os recursos da medicina dos homens e da doutrina espírita.
Atitudes paternas que dificultam um programa de prevenção às drogas:
-Pais que usam medicamentos na busca de equilíbrio, mostram que enfrentam a realidade ingerindo produtos químicos. (calmantes, etc.)
-Pais que usam e abusam de remédios sem receita médica, sem o menor esforço para diminuir a dor através dos recursos mentais e outras técnicas alternativas.
-Pais que usam e abusam de bebidas alcoólicas.
-Pais que fumam e usam o cigarro como bengala psicológica.




terça-feira, 9 de setembro de 2008

A mente que não mente

Autor: Hermínio C. de Miranda
A ortodoxia religiosa sempre andou preocupada com a eclosão de doutrinas reformistas e renovadoras que classifica sumariamente de heréticas. Essa vigilância tem levado a muita perseguição injusta e a não poucos arrependimentos e recuos. Alguns heréticos chegaram mesmo a passar da condição de réprobos à canonização, como Joana D’ Arc, quando foi revisto o seu processo. Outros, como Giodarno Bruno e Galileu, constituem até hoje pontos sensíveis na história eclesiástica, como pecados da juventude que não relembramos sem angústia.
O problema, porém, tornou-se muito mais sério nestes últimos tempos, nos quais o arcabouço teológico começa a estalar ao peso insuportável da modernização do pensamento. Ainda que a ciência também tenha seus dogmas e seus hereges, muito do que ela vai revelando adquire foros de conquista irreversível, geralmente em sacrifício de velhos conceitos superados.
Qualquer menino de ginásio sabe hoje que um corpo humano não pode subir ao céu como querem os dogmas da ascensão do Cristo e de Maria.
Mesmo admitindo-se a atuação de uma força propulsora que os projetasse para além da gravidade terrestre, os corpos assim deslocados, ficariam suspensos no espaço a circular na órbita da terra ou de seu satélite.
Esse tipo de conhecimento leva o homem moderno às trilhas da descrença por não saber como conciliar razão e fé. Os grandes filósofos do cristianismo ortodoxo conseguiram, com enorme sucesso e por largo espaço de tempo, convencer fiéis de que a fé era uma coisa e razão outra, e que aquela não poderia ser subordinada a esta.
Ainda há quem admita esse conceito absurdo; outros, porém, preferem pensar por sua própria cabeça e submeter à crítica da razão aquilo que lhes chega envolvido pela atmosfera abafada da teologia escolástica. Estes derivam para descrença e desanimam na busca da verdade ou partem para o estudo sistemático de qualquer sistema que ofereça alguma luz ao entendimento do universo.
O Espiritismo é a doutrina que conseguiu, pela primeira vez, conciliar fé e razão, não admitindo aquilo que não puder passar no teste do racionalismo inteligente e esclarecido.
Por isso vai se impondo metodicamente, seguramente, ampliando cada vez mais sua área de influência, pois atrai a todos aqueles que, sem poderem mais aceitar a velha crença divorciada da razão, estão prontos para acatar uma verdade superior que não exige o sacrifício do raciocínio. Mas ainda: o Espiritismo expõe uma doutrina do mais profundo sentido humanista. A sua racionalidade não a levou à frieza dos símbolos matemáticos ou dos meros conceitos filosóficos – é, antes, uma norma de vida, um roteiro para compreensão do universo e posicionamento do homem na escala cósmica.
Por isso, muitos nos procuram, o que preocupa, como é natural, os responsáveis pela perpetuação do superado sistema dogmático. Através dos séculos, chegou a ser desenvolvida uma verdadeira técnica de combate às novas idéias que ameaçam a estabilidade da ortodoxia. Essa técnica se aperfeiçoa com o passar do tempo, mas continua basicamente a mesma.
O Espiritismo é uma das doutrinas que muito vem incomodando a igreja especialmente a brasileira, ou seja, a porção brasileira do catolicismo romano. Para combatê-los, vários e ilustres sacerdotes têm sido investidos dos necessários poderes e dos competentes “Imprimatur” e “Nihil Obstat”. Essa é a técnica básica.
Há algum tempo, entretanto, a dominante do plano de ataque era a velha doutrina de interferência do diabo nas manifestações mediúnicas. Hoje isto seria inadmissível, pois até mesmo os sacerdotes já descobriram que essa história de demônio é fantasia pura. A prova está nas declarações de alguns eminentes teólogos perante o Concílio Vaticano-II. Impedidos assim de invocar o demônio de atacar a ciência nas suas conquistas mais legítimas, buscam qualquer princípio científico que ofereça a mínima possibilidade de apoio. Esse é o ponto em que variou a técnica.
Um dos recursos de que estão se socorrendo os nossos queridos irmãos sacerdotes é a Parapsicologia, na qual vêm depositando grandes e infundadas esperanças.
A Parapsicologia ainda não está muito segura de si e sofre dum renitente mal de origem, que poderíamos chamar, recorrendo ao velho grego, de pneumofobia, ou seja, medo do espírito. A jovem ciência que nós espíritas, poderíamos classificar como autêntica reencarnação da Metapsíquica, treme à idéia de acabar descobrindo o espírito humano e foge da palavra como, segundo se dizia, o desmoralizado diabo fugia da cruz. Os modernos tratados de Parapsicologia giram todos em torno do mesmo “leit motiv”: “O Alcance da Mente”, “O Novo Mundo da Mente”, “Ciência Fronteiriça da Mente”, “Canais Ocultos da Mente”. É tudo mente e nada de espírito. Sobrevivência?! Deus nos livre! Pois se nem quererem concordar em que o espírito exista, como vão admitir que sobrevive? Nada disso; tudo se explica pela faculdade extra-sensorial da mente. Mas que faculdade é essa e que “Mente” é essa?
Vêm, então, os nossos inevitáveis sacerdotes parapsicológicos deitar sabedoria extra-sensorial, contaminados irremediavelmente pela mesmíssima pneumofobia e tudo para eles é Mente também.
Topamos, assim, como esta incongruência, difícil de se admitir em homens que devem ter estudado a sua filosofia:
1 – a mente dispõe de faculdades extra-sensoriais (postulado cientifico que aceitam e ensinam);
2 – o espírito (alma) que não pode existir sem a mente; sobrevive à morte física (postulado teológico que também aceitam e pregam);
3 – a mente (ou espírito ou alma) não está sujeita a limitação de tempo ou de espaço (também pacífico).
No entanto, qual a conclusão: A mente do espírito sobrevivente que ligada ao corpo, tinha recursos tão notáveis, não pode manifestá-los quando se separa do corpo pela morte física, a não ser através do “milagre”(!).
E os livros que contam essas coisas merecem ingênuos e inadvertidos “Imprimatur” e “Nihil Obstat”, o que vale dizer que são aprovados, confiantemente para o leitor católico; autoridades Eclesiásticas respeitáveis dão cobertura do ponto de vista teológico a obras que, do ângulo científico, estão oferecendo uma visão deformada e incompleta da realidade. A Parapsicologia não tem substância suficiente para oferecer base à teologia ortodoxa e jamais a terá, enquanto permanecer contida nos seus gabinetes atuais.
No dia em que o mecanismo do espírito (chamem de mente se quiserem) for pesquisado por cientistas corajosos e despidos de preconceitos, vão ser “revelados” os seguintes pontos que o Espiritismo conhece há mais de cem anos:
1- que espírito existe, preexiste e sobrevive;
2- que há um intercâmbio ativo entre os homens que já viveram na Terra e os espíritos dos que vivem como homens;
3- que o espírito se reencarna, evolui e é responsável pelo que faz aqui e no mundo espiritual.
Diante disso, como é que vão ficar os nossos padres parapsicólogos? Quando voltarem para o espaço, depois da chamada “crise da morte” e quiserem transmitir a realidade da sobrevivência ao companheiro encarnado, este poderá dizer muito simplesmente que não é preciso admitir a comunicação espírita; basta a pantomnésia ou a hiperestesia direta, ou indireta. E o pobre espírito, dentro duma realidade irrecusável, irá amargar alhures a repercussão de sua vaidade teológica e científica.