segunda-feira, 19 de maio de 2008

Profissão de Fé Espírita Raciocinada

§ I — DEUS

1. Há um Deus, inteligência suprema, causa primária de todas as coisas.

A prova da existência de Deus temo-la neste axioma: Não há efeito sem causa. Vemos constantemente uma imensidade de efeitos, cuja causa não está na Humanidade, pois que a Humanidade é impotente para produzi-los, ou, sequer, para os explicar. A causa está acima da Humanidade. É a essa causa que se chama Deus, Jeová, Alá, Brama, Fo-Hi, Grande Espírito, etc. Tais efeitos absolutamente não se produzem ao acaso, fortuitamente e em desordem. Desde a organização do mais pequenino inseto e da mais insignificante semente, até a lei que rege os mundos que circulam no Espaço, tudo atesta uma idéia diretora, uma combinação, uma previdência, uma solicitude que ultrapassam todas as combinações humanas. A causa é, pois, soberanamente inteligente.

2. Deus é eterno, imutável, imaterial, único, onipotente, soberanamente justo e bom. Deus é eterno. Se tivesse tido começo, alguma coisa houvera existido antes dele, ou ele teria saído do nada, ou, então, um ser anterior o teria criado. É assim que, degrau a degrau, remontamos ao infinito na eternidade. É imutável. Se estivesse sujeito à mudança, nenhuma estabilidade teriam as leis que regem o Universo.

É imaterial. Sua natureza difere de tudo o a que chamamos matéria, pois, do contrário, ele estaria sujeito às flutuações e transformações da matéria e, então, já não seria imutável.

É único. Se houvesse muitos Deuses, haveria muitas vontades e, nesse caso, não haveria unidade de vistas, nem unidade de poder na ordenação do Universo.

É onipotente, porque é único. Se ele não dispusesse de poder soberano, alguma coisa ou alguém haveria mais poderoso do que ele; não teria feito todas as coisas e as que ele não houvesse feito seriam obra de outro Deus.

É soberanamente justo e bom. A sabedoria providencial das leis divinas se revela nas mais mínimas coisas como nas maiores e essa sabedoria não permite se duvide nem da sua justiça, nem da sua bondade.

3. Deus é infinito em todas as suas perfeições. Se supuséssemos imperfeito um só dos atributos de Deus, se lhe tirássemos a menor parcela de eternidade, de imutabilidade, de imaterialidade, de unidade, de onipotência, de justiça e de bondade, poderíamos imaginar um ser que possuísse o que lhe faltasse, e esse ser, mais perfeito do que ele, é que seria Deus.

§ II — A ALMA

4. Há no homem um princípio inteligente a que se chama ALMA ou ESPÍRITO, independente da matéria, e que lhe dá o senso moral e a faculdade de pensar.

Se o pensamento fosse propriedade da matéria teríamos a matéria bruta a pensar. Ora, como ninguém nunca viu a matéria inerte dotada de faculdades intelectuais; como, quando o corpo morre, não mais pensa, forçoso é se conclua que a alma independe da matéria e que os órgãos não passam de instrumentos com que o homem manifesta seu pensamento.

5. As doutrinas materialistas são incompatíveis com a moral e subversivas da ordem social.

Se, conforme pretendem os materialistas, o pensamento fosse segregado pelo cérebro, como a bílis o é pelo fígado, seguir-se-ia que, morto o corpo, a inteligência do homem e todas as suas qualidades morais recairiam no nada; que os nossos parentes, os amigos e todos quantos houvessem tido a nossa afeição estariam irremissivelmente perdidos; que o homem de gênio careceria de mérito, pois que somente ao acaso da sua organização seria devedor das faculdades transcendentes que revela; que entre o imbecil e o sábio apenas haveria a diferença de mais ou menos substância cerebral.

As conseqüências dessa doutrina seriam que, nada podendo esperar para depois desta vida, nenhum interesse teria o homem em fazer o bem; que muito natural seria procurasse ele a maior soma possível de gozos, mesmo à custa dos outros; que o sentimento mais racional seria o egoísmo; que aquele que fosse persistentemente desgraçado na Terra, nada de melhor teria a fazer, do que se matar, porquanto, destinado a mergulhar no nada, isso não lhe seria nem pior, nem melhor, ao passo que de tal forma abreviaria seus sofrimentos.

A doutrina materialista é, pois, a sanção do egoísmo, origem de todos os vícios; a negação da caridade — origem de todas as virtudes e base da ordem social — e seria ainda, a justificação do suicídio.

6. O Espiritismo prova a existência da alma.

Provam a existência da alma os atos inteligentes do homem, por isso que eles hão de ter uma causa inteligente e não uma causa inerte. Que ela independe da matéria está demonstrado de modo patente pelos fenômenos espíritas que a mostram agindo por si mesma e o está, sobretudo,
pelo seu insulamento durante a vida, o que lhe permite manifestar-se, pensar e agir sem o corpo.

Pode-se dizer que, se a química separou os elementos da água; se, dessa maneira, pôs a descoberto as propriedades desses elementos e se pode, à sua vontade, fazer e desfazer um corpo composto, o Espiritismo, igualmente, pode isolar os dois elementos constitutivos do homem: o Espírito e a matéria, a alma e o corpo, separá-los e reuni-los à vontade, o que não deixa dúvida sobre a independência de uma e outro.

7. A alma do homem sobrevive ao corpo e conserva a sua individualidade após a morte deste.

Se a alma não sobrevivesse ao corpo, o homem só teria por perspectiva o nada, do mesmo modo que se a faculdade de pensar fosse produto da matéria. Se não conservasse a sua individualidade, isto é, se se dissolvesse no reservatório comum chamado o grande todo, como as gotas d’água no Oceano, seria igualmente, para o homem, o nada do pensamento e as conseqüências seriam absolutamente as mesmas que se não houvesse alma.

A sobrevivência desta à morte do corpo está provada de maneira irrecusável e até certo ponto palpável, pelas comunicações espíritas. Sua individualidade é demonstrada pelo caráter e pelas qualidades peculiares a cada um. Essas qualidades, que distinguem umas das outras as almas, lhes constituem a personalidade. Se as almas se confundissem num todo comum, uniformes seriam as suas qualidades.

Além dessas provas inteligentes, há também a prova material das manifestações visuais, ou aparições, tão freqüentes e autênticas, que não é lícito pô-las em dúvida.

8. A alma do homem é ditosa ou desgraçada depois damorte, conforme haja feito o bem ou o mal durante a vida.

Em se admitindo um Deus soberanamente justo, não se pode admitir que as almas tenham todas a mesma sorte. Se a posição futura do criminoso houvesse de ser a mesma que a do homem virtuoso, excluída estaria toda a utilidade da prática do bem. Ora, supor que Deus não faz diferença entre o que pratica o bem e o que pratica o mal fora negar-lhe a justiça. Nem sempre recebendo punição o mal e recompensa o bem, durante a vida terrenal, deve-se concluir daí que a justiça será feita depois, sem o que Deus não seria justo.

As penas e os gozos futuros estão, ao demais, provados pelas comunicações que os homens podem estabelecer com as almas dos que aqui viveram e que vêm descrever o estado em que se encontram, ditoso ou infeliz, a natureza de suas alegrias ou de seus sofrimentos e enumerar-lhes as causas.

9. Deus, alma, sobrevivência e individualidade da alma após a morte do corpo, penas e recompensas futuras constituem os princípios fundamentais de todas as religiões.

O Espiritismo junta às provas morais desses princípios as provas materiais dos fatos e da experimentação e corta cerce os sofismas do materialismo. Em presença dos fatos, cessa toda razão de ser da incredulidade. É assim que o Espiritismo restitui a fé aos que a tenham perdido e
dissipa as dúvidas dos incrédulos.

Fonte: Primeira parte - Obras Póstumas / Allan Kardec

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