Muitos acham maldição
O padecimento da vida
Viver na escravidão
E ter uma vida sofrida
Sei dizer que não é brincadeira
Nem mesmo alegria
Viver sem eira nem beira
Viver à revelia
Os escravos para uns
Eram como bichos nojentos
Não faziam mal algum
Mas os achavam agourentos
No meio de tanta peleja
Havia alguns corações amigos
Nos espinhos que a flor viceja
Não havia só os escarninhos
Nossa labuta era intensa
Fosse de noite ou de dia
E não havia recompensa
Nem sorrisos de alegria
Éramos como cães
maltratados
Maltrapilhos e nojentos
Éramos por todos escorraçados
Fosse qual fosse nosso intento
Em Angola era diferente
Havia dança e muita festa
Vivíamos alegremente
Dançávamos e riamos à beça
Tínhamos a fome para matar
Também a doença nos contagiava
A peste era o jaguar
A nos espreitar pela estrada
O Ebola, a Sífilis e o Tétano
De tudo se tinha um pouco
Os médicos tentavam sem sucesso
Eram santos no meio de loucos
Fomos felizes, fomos tristes
Na vida de liberto e escravo
Mas caminhávamos com o pensamento em cristo
Não nos entregávamos ao marasmo
Os escravos estão voltando
A habitar nosso planeta
Muitos estão se renovando
Saudando dívidas ou vidas incompletas
Não reclamo de minha vida
Vivida como escravo em Muqui
Passei por várias lidas
Mas foi lá que como espírito eu evoluí
Abraços João
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