segunda-feira, 18 de agosto de 2008

A PAZ É A RESPOSTA À ORAÇÃO

J. Herculano Pires


Quando falamos de oração e de paz, ligamos imediatamente dois elementos fundamentais que constituem o anseio principal da alma humana. A oração representa a nossa transcendência, o momento em que nós superamos a nossa condição simplesmente humana para nos aproximarmos da condição divina; é o momento em que falamos com Deus, estabelecemos aquele diálogo que Kierkgard fundamentava todo o processo da sublimação do homem através da existência. Nesse diálogo não está apenas a nossa ligação com o Poder Supremo, porque podemos também dirigir as nossas orações às entidades espirituais que considerarmos, por motivos muitas vezes puramente pessoais, mas próxima do nosso coração, mais acessível à nossa compreensão e ao nosso atendimento. Mas, de qualquer maneira, a oração é sempre o esforço do homem para transcender a sua condição precária na terra, a fragilidade da sua condição humana e elevar-se à condição divina.

A Paz é a resposta à oração. E a oração é o pedido do homem ao céu; é o grito da criatura em direção ao Criador, pedindo amparo e orientação na terra. A Paz, aquela Paz de que fala Jesus no Evangelho; não a paz do mundo; mas a Paz do Evangelho. É a resposta do Criador à Criatura.

É a resposta do céu à terra, o momento em que desce do céu a centelha divina para iluminar o coração humano, para esclarecer a consciência do homem. Há muitas tentativas de estudar o problema da oração e há muitas críticas a respeito da oração. Se temos fé e oramos, devemos esperar uma resposta. Muitas vezes, porém, dizem os críticos, não há resposta nenhuma. A oração parece bater contra uma muralha e desfaz-se, sem produzir sequer um eco. É o momento da angústia que envolve o homem no seu desespero, na sua procura muitas vezes, desesperada, de solução para os seus problemas, para suas inquietações e ansiedades. Entretanto, apesar de toda essa afirmação crítica, alguns dizem que, pelo contrário, a oração tem sempre a sua resposta, de uma forma ou de outra. Na era científica em que vivemos, a crítica à oração se estende também ao problema da impossibilidade de nos comunicarmos, à distância, com as criaturas divinas em quem confiamos, nas quais depositamos nossa fé e nossas esperanças. Dizem, então, como pode uma criatura da terra, esse “bicho da terra”, tão pequeno, como dizia Camões, nos “Lusíadas”, como pode essa ínfima criatura terrena dirigir-se a Deus ou dirigir-se a uma entidade espiritual, muito superior a ela, muito superior a essa criatura ? Como pode-se estabelecer o diálogo entre o finito e o infinito, entre o divino e o humano ? Que força terá o pensamento terreno, o pensamento do homem, na Terra, para atravessar as distâncias do infinito, e atingir, no incomensurável, os corações terrenos aos quais ele se dirige ?

Mas, a evolução científica do nosso tempo se acelera, e de tal maneira se acelerou nas últimas fases, que podemos dizer, sem medo de errar, que o problema da oração deixou de ser puramente teológico, religioso, ou mesmo um problema filosófico, para se esclarecer em termos de ciência. O desenvolvimento das ciências psicológicas em nosso tempo – tempo que podemos classificar muito além de simples era atômica, em era psicológica, pois a psicologia domina em todos os campos do conhecimento atual, neste tempo o problema da oração esclarece-se através do desenvolvimento das próprias ciências psicológicas. Sabemos que, depois das duas últimas correntes da psicologia moderna – podemos considerar como as duas últimas correntes no sentido de constantes decisivas do desenvolvimento psicológico – que são a psicologia profunda, de um lado, tendo sua base na teoria do inconsciente e, de outro lado, a teoria da percepção que tem como fundamento a “gestalt”, ou teoria da forma – o desenvolvimento dessas duas correntes no campo das ciências psicológicas resultou em nossa época no aparecimento da parapsicologia, resultado dialético do encontro e da fusão destas duas correntes da psicologia em profundidade e da psicologia da percepção, que é periférica, a parapsicologia resume, aparece, portanto, da síntese daquelas concepções, oferecendo-nos uma possibilidade de maior compreensão da natureza humana.
O Prof. Rhine, que é o fundador da parapsicologia moderna, chegou a afirmar que a finalidade da parapsicologia é mostrar ao homem a sua verdadeira natureza, é descobrir na profundeza do homem a sua verdadeira essência.

Pois bem, uma das conquistas mais velhas, mais positivas da parapsicologia em nosso tempo está precisamente no campo do pensamento. A parapsicologia provou cientificamente – e isto já na década de 30, e é, portanto uma prova científica que já tem quase quarenta anos de validade – que o pensamento não é físico. O Prof. Rhine chegou mesmo a criar uma expressão científica para evitar a expressão religiosa- espiritual. Criou uma expressão científica para designar a natureza dessa prevenção não física, não material, que existe no homem.

Ele diz, então, o pensamento é extra-físico. Se o pensamento é extra-físico, ele não provém do cérebro. Não é como queriam os materialistas dos Séculos XVIII e XIX, uma secreção do cérebro, à semelhança da bílis que é secretada pelo fígado. Não, o pensamento não tem sua origem na matéria, e o Prof. Rhine sustenta a tese de que o pensamento é extra-físico e , consequentemente, provém da mente, que também é extra-física.

A mente extra-física possui um instrumento de manifestação material, que é o cérebro. O cérebro não segrega o pensamento. O cérebro apenas recebe o pensamento. As pesquisas realizadas a respeito da natureza do pensamento no campo parapsicológico, demonstraram o seguinte: o pensamento é a energia mais poderosa que conhecemos no campo da comunicação.

Nenhuma das energias utilizadas nas comunicações técnicas na Terra – nenhuma – alcança as distâncias infinitas que o pensamento atinge. E nenhuma é capaz de vencer todas as barreiras que o pensamento vence. Para o pensamento não há barreiras físicas, barreiras materiais. Não há nem mesmo a distância no espaço e nem a distância no tempo. O pensamento não se sujeita ao condicionamento físico espaço-temporal. Ele supera todos os condicionamentos físicos, ele está além do físico; é precisamente extrafísico.

Por isso estabelece-se, ao lado da corrida pela conquista do espaço, entre as duas grandes potências mundiais, Estados Unidos e Rússia, também uma corrida bastante significativa para o nosso tempo, que é a corrida telepática. As pesquisas nesse sentido se desenvolvem nesse campo, nas duas grandes potências. E por quê ? Porque ambas, querendo conquistar o cosmos, descobriram, afinal, que não possuem nenhum tipo de energia capaz de estabelecer comunicações cósmicas, a não ser a energia misteriosa do pensamento humano. Ora, se isso no campo das ciências, na aplicação prática das conquistas materiais tem uma grande significação, quanto maior é o significado quando colocamos essa tese no campo da religião! E, com referência a oração, a criatura que ora em silêncio, no seu casebre, no seu tugúrio, ou no seu palácio, que ora na rua, que ora em casa, que ora no campo, em um avião ou dentro de uma nave espacial, está emitindo ondas indestrutíveis de pensamento, ondas que superam as limitações de espaço e de tempo e que podem ser captadas em qualquer tempo, em qualquer momento, em qualquer lado da Terra ou fora da Terra.

Isso nos dá então, a confiança plena, atestada agora pelas novas conquistas científicas mais recentes, a confiança plena no poder da oração.

O pensamento atravessando as distâncias incomensuráveis do Cosmos, nos dá a segurança de que a oração pode ligar-nos apesar da nossa pequenez e da nossa humildade à grandeza e sublimidade do Criador!



(Discurso pronunciado pelo jornalista J. Herculano Pires, em nome da comunidade espírita, no decurso da sessão solene realizada no dia 12 de novembro de 1971 na Câmara Municipal, para comemorar o Dia da Oração).





Fonte: Editora Paidéia


http://www.editorapaideia.com.br/default.asp?id=10&acao=1&id_artigo=30

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