segunda-feira, 6 de abril de 2009

Kardec e a Ciência Espírita

J. Herculano Pires

O Espiritismo como religião é uma conseqüência da Ciência Espírita. A III Revelação não nasceu da pregação de um messias ou profeta, mas da pesquisa científica dos fenômenos mediúnicos. Provada a sobrevivência da alma após a morte – cientificamente provada por Kardec e pelos grandes cientistas do século passado e deste século que se interessaram pelo assunto – o problema espiritual escapou das mãos dos teólogos e dos místicos, do campo religioso tradicional. Por isso Kardec se recusou a chamar o Espiritismo de religião e o chamou de “auxiliar das religiões”, porque era a Ciência do Espirito que surgia para explicar e esclarecer os supostos mistérios do suposto mundo sobrenatural das religiões.

Quem não compreender isso não está apto a ensinar Espiritismo a ninguém. O beato espírita não é espírita, pois não conhece a doutrina e não estuda, não se liberta das superstições e dos erros do seu passado religioso. Pela sua crença ingênua está sujeito a servir de instrumento a qualquer espírito mistificador e se apresentar como mestre missionário, reencarnação de Kardec e outras tolices dessa ordem.

Os reformadores da doutrina, encarnados e desencarnados, nada mais são do que indivíduos pretensiosos, extremamente vaidosos, que se deixaram levar por espíritos trevosos, empenhados em semear joio na serra.

Nosso meio espírita está cheio de criaturas de boa vontade, ingênuas e bondosas, mas nem por isso livres da vaidade. Como Kardec demonstrou, já no seu tempo, esses elementos, quando se fanatizam, fazem mais mal ao Espiritismo do que os adversários da doutrina. Porque a ridicularizam, reduzem o Espiritismo a uma seita de beatos ignorantes.

O Espiritismo não é doutrina feita para sábios, mas para todos os que tenham um pouco de bom senso e de humildade. Os sábios também estão sujeitos à mistificação, pois há mistificadores sábios nas trevas, e muitos doutores andam por aí a pregar tolices em nome de um suposto progresso do Espiritismo, de sua suposta atualização. Ninguém é professor de Espiritismo. Todos somos aprendizes, todos. E geralmente maus aprendizes, que quando pretendem ensinar deturpam a doutrina.

As obras de Kardec são a única fonte verdadeira do saber espírita. Quem não ler e estudar essas obras com humildade e vontade legitima de aprender, não conhece Espiritismo. Os que realmente estudam e compreendem a doutrina sentem-se humildes diante de sua grandeza e não pretendem passar por mestres. São colegas mais aplicados que apenas se esforçam para ajudar os companheiros de escola no aprendizado necessário. A obra de Kardec ainda não foi suficientemente estudada. A maioria dos espíritas estudiosos não conseguiu ainda penetrar na essência dessa obra, que não foi escrita para um século, mas para muitos séculos. Infeliz daquele que pretende ser o mestre de todos. Na verdade é o cego do Evangelho que conduz outros cegos ao barranco. Precisamos ter muito cuidado para não entrarmos nessas filas de cegos ou não nos colocarmos na posição ridícula de cego a guiar cegos.

Basta lembrarmos que a Ciência Espírita só apareceu depois do desenvolvimento das outras Ciências, para termos uma idéia de sua complexidade. Só agora os físicos, químicos, biólogos, botânicos, psicólogos, sociólogos e parapsicólogos estão descobrindo que os seus enganos já foram percebidos por Kardec há mais de um século. Precisamos pensar nisso quando lermos um artigo ou um livro de pretensos mestres que se dizem descobridores da pólvora. Como disse Kardec, um grande sábio pode conhecer muito da sua especialidade, mas é ignorante em Espiritismo. Porque só agora as Ciências estão começando a entrar no estudo e na pesquisa dos fenômenos espíritas e assim mesmo com muitos preconceitos.

Da Ciência Espírita nasceu a Filosofia Espírita. E desta nasceu a Religião Espírita. Isto foi bem ensinado por Kardec, mas os próprios espíritas ainda não entenderam o ensino, o que mostra o quanto ainda estamos longe da apregoada superação de Kardec. Como em todas as Ciências, na Ciência Espírita a primeira condição para aprendê-la é a humildade. Não se trata da humildade religiosa, que nos leva a tudo aceitar de cabeça baixa para obtermos a glória eterna (o que revela contradição dessa humildade egoísta e ambiciosa), mas da humildade honesta da criatura que reconhece os seus limites e não quer passar de pato a ganso. O maior exemplo de estudo sério e humilde do Espiritismo nos foi dado por Kardec. Ele era um sábio — filósofo, pedagogo, médico, psicólogo, mestre em Ciências, diretor de estudos da Universidade de França com suas obras adotadas por essa Universidade, continuador da Pedagogia de Pestalozzi, pesquisador científico conhecido pela sua prudência e rigor metodológico, louvado pelos sábios do seu tempo, e com tudo isso entregou-se ao trabalho espírita com a modéstia socrática de simples aprendiz de homem que buscava o saber, sabendo que nada sabia. Não lutava para conquistar as glórias terrenas nem a glória eterna, mas para esclarecer os problemas que até hoje aturdem os homens em todo o mundo. Substituiu o seu próprio nome, de família ilustre e famosa, pelo pseudônimo Allan Kardec, nome de um desconhecido que vivera no mundo celta. Viveu e morreu na pobreza, caluniado e insultado, respondendo sempre aos seus agressores gratuitos com palavras de esclarecimento e convites ao estudo e à pesquisa, em favor da Humanidade. Que diferença entre ele e os seus pretensos reformadores, desde o pobre Roustaing do seu tempo até os da atualidade, que mais do que nunca precisam ler e estudar as suas obras!

A tolerância espírita, como toda e qualquer tolerância tem os seus limites invioláveis. Quando transpomos esses limites passamos ao campo adversário, caímos no erro e ajudarmos as Trevas. O espirita não é nem pode ser um ingênuo, um ignorante irresponsável, um crente insensato, um místico irracional. Espiritismo é conhecimento e todo conhecimento implica responsabilidade. Aceitar e propagar mistificações em nome da Doutrina é cometer um crime de lesa-humanidade um atentado contra a evolução humana, contra o Evangelho de Jesus e a Codificação de Allan Kardec.

A interpretação errada e comodista do conceito espírita de tolerância desfigurou e aviltou o movimento espírita brasileiro. Nossa vasta Seara Espírita, de que tanto nos orgulhamos, está asfixiada pelo joio que médiuns invigilantes e pregadores vaidosos semearam e semeiam sem cessar. E os responsáveis não são apenas eles, mas também todos aqueles que não protestam, que se acomodam, que evocam o princípio de tolerância para não provocar atritos. Esses comodistas preferem o pântano as águas correntes. Cultivam o charco no meio da seara.

O panorama atual é desolador. A FEB e numerosas Federações Estaduais, a ela filiadas, continuam mantendo e propagando a mistificação de Roustaing, tristemente ridícula cheia de absurdos que contradizem Kardec e Jesus, pois os espíritos mistificadores deformaram o próprio Evangelho. A Federação paulista, depois da saturação de mais de trinta anos de Armondismo, continua ramatiziana e semeando tolices em nome da Doutrina. Essa Federação, que pela tradição do Espiritismo em São Paulo devia ser um modelo, virou um mercado de peixes, em que todos falam e ninguém se entende. Chegou a tal ponto a FEESP que se fez a primeira adulteradora no mundo, de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”. As demais entidades, com raras exceções, estão cheias desses e de outros absurdos e tolices de arrepiar qualquer pessoa de bom senso. As reencarnações de Kardec proliferam no pântano da vaidade fascinada. André Luiz é equiparado a Ramatis e ambos transformados em superadores de Kardec.

E os místicos da tolerância mal compreendida aplaudem, tudo isso, esquecidos de que não podemos tolerar a mentira e a mistificação.

Os espíritas conscientes, convictos, precisam opor a barreira da verdade doutrinária a essa avalanche de mentiras que ameaça asfixiar o Espiritismo no Brasil. Chegamos aos limites da tolerância e mergulhamos no erro, entregamo-nos à fascinação das Trevas. E cada um de nós é responsável por essa situação calamitosa. Ou reagiremos contra esse abastardamento do Espiritismo ou seremos cúmplices da ignorância criminosa


Fonte: http://www.editorapaideia.com.br

sexta-feira, 27 de março de 2009

Tecnologia e Evangelho

Vianna de Carvalho (espírito)

Ante o esplendor da Tecnologia colocada a serviço da comodidade humana, exaltamos, no Evangelho, a técnica profunda para a libertação do homem.

Não desconsideramos os preciosos recursos da ciência tecnológica aplicados para a decifração dos perturbadores problemas que vêm desafiando os séculos, na condição de enigmas aparentemente insolúveis.

Em face do aguçado olhar dos microscópios eletrônicos foram surpreendidas colônias de organismos e vidas perniciosas, adentrando-se o homem na profunda mecânica das células, das moléculas, dos átomos e das expressões subatômicas; as grandes lunetas de radioastronomia detectam o agitar de “quasares” azuis e de Universos outros pulsantes no Infinito dos espaços; possuem em outros mundos os engenhos interplanetários...

A Terra diminui de expressão, enquanto as distâncias desaparecem; os acontecimentos televisionados, via satélite artificiais, invadem os lares com expressivas cargas de informações rápidas, que, de certo modo, aturdem as criaturas. Há conforto, música, beleza, ordem, limpeza e programação em quase todos os lugares do mundo.

Poder-se-á mesmo dizer que o triunfo tecnológico teria mudado as paisagens do planeta, não fossem as ermas ou frias, revoltadas, tristes ou miseráveis paisagens do mundo moral do homem, que prossegue, genericamente, sem rumo, no báratro das realizações exteriores.

Simultaneamente o orgulho dizima os poderosos, que se olvidam dos fracos, enquanto necessidades sócio-econômicas aniquilam os pobres, que olham, revoltados, a abastança dos ricos...

Abraça-se o opulência com a miséria, não obstante as aparentes segregações. Quase todos, porém sob o açodar de íntimas aflições sem nome, se arrojam a guetos de exteriores diversos, quais imensos abismos de angústias e sombras onde buscam os prazeres fugidios que os não saciam.

De um lado, a opulência vã, que não ultrapassa os limites das necessidades morais urgentes, e de outro, a frieza, a indiferença, o cansaço dos que supõem haver conquistado o mundo, quando, em realidade, apenas triunfaram por fora...

As montras que exibem os mais aperfeiçoados aparelhos eletrônicos, jóias sofisticadas, móveis de alto luxo confundem-se com as que convidam ao sexo aviltado, em multiforme expressão que escapa à imaginações mais exacerbadas – de inspiração procedente das baixas regiões do Mundo Espiritual -, com os cassinos e bares onde as paixões e ilusões não conseguem evadir-se à constrição devastadora...

Sob a mesma inspiração, afoga-se a juventude no pântano dos tóxicos ou engaja-se, alucinada, nas experiências da velocidade, da aventura, da criminalidade. E muito mais...

Não olvidamos os inestimáveis serviços prestados à saúde do corpo e da psique, que resultam das laboriosas conquistas científicas, expulsando enfermidades cruéis, e que cedem lugar a novas técnicas, tais, aliás, raramente ao alcance das bolsas dos aflitos.

A Ciência sem Deus é loucura e morte. A Tecnologia sem o apoio do Evangelho é passo largo para o desespero e a insensatez.

A Tecnologia melhora a forma, dá beleza, enquanto o Evangelho reforma o homem e dá-lhe sentimento.

A ciência tecnológica programa o mundo, enquanto a sabedoria evangélica edifica o homem, que, renovado, modifica o mundo.

A primeira trabalha para o exterior; a segunda promove o interior.

Uma é claridade, atuando de fora para dentro; outra é luz a exteriorizar-se de dentro para fora.

Para o materialismo não há saída. O futuro se encarregará de mudar-lhe as atuais estruturas conceptuais e tecnológicas, impelindo o homem, inevitavelmente, para Deus.

Certamente, nenhum desdém pelas nobres conquistas do cérebro; todavia, sem a eloqüente contribuição do sentimento renovado em Cristo Jesus, o homem não se encontra consigo mesmo. Não indo além de uma forma bem equipada e perigosa, a caminho das sombras do túmulo.

Por isso, reverenciamos na Doutrina consoladora dos Espíritos a Ciência da crença, sob o Sol sublime que é Jesus, astro de primeira grandeza a sustentar o equilíbrio do sistema, fecundo e soberano, que espera por nós há milênios, sem pressa nem angústia.

(Página psicografada pelo médium Divaldo P. Franco, em 9-6-1977, em Frankfurt, Alemanha).

Reformador – Fevereiro de 1978

sexta-feira, 13 de março de 2009

O bem e o mal

629. Que definição se pode dar da moral?

“A moral é a regra de bem proceder, isto é, de distinguir o bem do mal. Funda-se na observância da lei de Deus. O homem procede bem quando tudo faz pelo bem de todos, porque então cumpre a lei de Deus.”

630. Como se pode distinguir o bem do mal?

“O bem é tudo o que é conforme à lei de Deus; o mal, tudo o que lhe é contrário. Assim, fazer o bem é proceder de acordo com a lei de Deus. Fazer o mal é infringi-la.”

631. Tem meios o homem de distinguir por si mesmo o que é bem do que é mal?

“Sim, quando crê em Deus e o quer saber. Deus lhe deu inteligência para distinguir um do outro.”

632. Estando sujeito ao erro, não pode o homem enganar-se na apreciação do bem e do mal e crer que pratica o bem quando em realidade pratica o mal?

“Jesus disse: vede o que queríeis que vos fizessem ou não vos fizessem. Tudo se resume nisso. Não vos enganareis.”

633. A regra do bem e do mal, que se poderia chamar de reciprocidade ou de solidariedade, é inaplicável ao proceder pessoal do homem para consigo mesmo. Achará ele, na lei natural, a regra desse proceder e um guia seguro?

“Quando comeis em excesso, verificais que isso vos faz mal. Pois bem, é Deus quem vos dá a medida daquilo de que necessitais. Quando excedeis dessa medida, sois punidos. Em tudo é assim. A lei natural traça para o homem o limite das suas necessidades. Se ele ultrapassa esse limite, é punido pelo sofrimento. Se atendesse sempre à voz que lhe diz - basta, evitaria a maior parte dos males, cuja culpa lança à Natureza.”

634. Por que está o mal na natureza das coisas? Falo do mal moral. Não podia Deus ter criado a Humanidade em melhores condições?

“Já te dissemos: os Espíritos foram criados simples e ignorantes. Deus deixa que o homem escolha o caminho. Tanto pior para ele, se toma o caminho mau: mais longa será sua peregrinação. Se não existissem montanhas, não compreenderia o homem que se pode subir e descer; se não existissem rochas, não compreenderia que há corpos duros. É preciso que o Espírito ganhe experiência; é preciso, portanto, que conheça o bem e o mau. Eis por que se une ao corpo.”

635. Das diferentes posições sociais nascem necessidades que não são idênticas para todos os homens. Não parece poder inferir-se daí que a lei natural não constitui regra uniforme?

“Essas diferentes posições são da natureza das coisas e conformes à lei do progresso. Isso não infirma a unidade da lei natural, que se aplica a tudo.”

Nota de Allan Kardec - As condições de existência do homem mudam de acordo com os tempos e os lugares, do que lhe resultam necessidades diferentes e posições sociais apropriadas a essas necessidades. Pois que está na ordem das coisas, tal diversidade é conforme à lei de Deus, lei que não deixa de ser una quanto ao seu princípio. À razão cabe distinguir as necessidades reais das factícias ou convencionais.

636. São absolutos, para todos os homens, o bem e o mal?

“A lei de Deus é a mesma para todos; porém, o mal depende principalmente da vontade que se tenha de o praticar. O bem é sempre o bem e o mal sempre o mal, qualquer que seja a posição do homem. Diferença só há quanto ao grau da responsabilidade.”

637. Será culpado o selvagem que, cedendo ao seu instinto, se nutre de carne humana?

“Eu disse que o mal depende da vontade. Pois bem! Tanto mais culpado é o homem, quanto melhor sabe o que faz.”

Nota de Allan Kardec - As circunstâncias dão relativa gravidade ao bem e ao mal. Muitas vezes, comete o homem faltas, que, nem por serem conseqüência da posição em que a sociedade o colocou, se tornam menos repreensíveis. Mas, a sua responsabilidade é proporcionada aos meios de que ele dispõe para compreender o bem e o mal. Assim, mais culpado é, aos olhos de Deus, o homem instruído que pratica uma simples injustiça, do que o selvagem ignorante que se entrega aos seus instintos.

638. Parece, às vezes, que o mal é uma conseqüência da força das coisas. Tal, por exemplo, a necessidade em que o homem se vê, nalguns casos, de destruir, até mesmo o seu semelhante. Poder-se-á dizer que há, então, infração da lei de Deus?

“Embora necessário, o mal não deixa de ser o mal. Essa necessidade desaparece, entretanto, à medida que a alma se depura, passando de uma a outra existência. Então, mais culpado é o homem, quando o pratica, porque melhor o compreende.”

639. Não sucede freqüentemente resultar o mal, que o homem pratica, da posição em que os outros homens o colocam? Quais, nesse caso, os culpados?

“O mal recai sobre quem lhe foi o causador. Nessas condições, aquele que é levado a praticar o mal pela posição em que seus semelhantes o colocam tem menos culpa do que os que, assim procedendo, o ocasionaram. Porque, cada um será punido, não só pelo mal que haja feito, mas também pelo mal a que tenha dado lugar.”

640. Aquele que não pratica o mal, mas que se aproveita do mal praticado por outrem, é tão culpado quanto este?

“É como se o houvera praticado. Aproveitar do mal é participar dele. Talvez não fosse capaz de praticá-lo; mas, desde que, achando-o feito, dele tira partido, é que o aprova; é que o teria praticado, se pudera, ou se ousara.”

641. Será tão repreensível, quanto fazer o mal, o desejá-lo?

“Conforme. Há virtude em resistir-se voluntariamente ao mal que se deseja praticar, sobretudo quando há possibilidade de satisfazer-se a esse desejo. Se apenas não o pratica por falta de ocasião, é culpado quem o deseja.”

642. Para agradar a Deus e assegurar a sua posição futura, bastará que o homem não pratique o mal?

“Não; cumpre-lhe fazer o bem no limite de suas forças, porquanto responderá por todo mal que haja resultado de não haver praticado o bem.”

643. Haverá quem, pela sua posição, não tenha possibilidade de fazer o bem?

“Não há quem não possa fazer o bem. Somente o egoísta nunca encontra ensejo de o praticar. Basta que se esteja em relações com outros homens para que se tenha ocasião de fazer o bem, e não há dia da existência que não ofereça, a quem não se ache cego pelo egoísmo, oportunidade de praticá-lo. Porque, fazer o bem não consiste, para o homem, apenas em ser caridoso, mas em ser útil, na medida do possível, todas as vezes que o seu concurso venha a ser necessário.”

644. Para certos homens, o meio onde se acham colocados não representa a causa primária de muitos vícios e crimes?

“Sim, mas ainda aí há uma prova que o Espírito escolheu, quando em liberdade, levado pelo desejo de expor-se à tentação para ter o mérito da resistência.”

645. Quando o homem se acha, de certo modo, mergulhado na atmosfera do vício, o mal não se lhe torna um arrastamento quase irresistível?

“Arrastamento, sim; irresistível, não; porquanto, mesmo dentro da atmosfera do vício, com grandes virtudes às vezes deparas. São Espíritos que tiveram a força de resistir e que, ao mesmo tempo, receberam a missão de exercer boa influência sobre os seus semelhantes.”

646. Estará subordinado a determinadas condições o mérito do bem que se pratique? Por outra: Será de diferentes graus o mérito que resulta da prática do bem?

“O mérito do bem está na dificuldade em praticá-lo. Nenhum merecimento há em fazê-lo sem esforço e quando nada custe. Em melhor conta tem Deus o pobre que divide com outro o seu único pedaço de pão, do que o rico que apenas dá do que lhe sobra, disse-o Jesus, a propósito do óbolo da viúva.”

671. Que devemos pensar das chamadas guerras santas? O sentimento que impele os povos fanáticos, tendo em vista agradar a Deus, a exterminarem o mais possível os que não partilham de suas crenças, poderá equiparar-se, quanto à origem, ao sentimento que os excitava outrora a sacrificarem seus semelhantes?

“São impelidos pelos maus Espíritos e, fazendo a guerra aos seus semelhantes, contravêm à vontade de Deus, que manda ame cada um o seu irmão, como a si mesmo. Todas as religiões, ou, antes, todos os povos adoram um mesmo Deus, qualquer que seja o nome que lhe dêem. Por que então há de um fazer guerra a outro, sob o fundamento de ser a religião deste diferente da sua, ou por não ter ainda atingido o grau de progresso da dos povos cultos? Se são desculpáveis os povos de não crerem na palavra daquele que o Espírito de Deus animava e que Deus enviou, sobretudo os que não o viram e não lhe testemunharam os atos, como pretenderdes que creiam nessa palavra de paz, quando lhes ides levá-la de espada em punho? Eles têm que ser esclarecidos e devemos esforçar-nos por fazê-los conhecer a doutrina do Salvador, mediante a persuasão e com brandura, nunca a ferro e fogo. Em vossa maioria, não acreditais nas comunicações que temos com certos mortais; como quereríeis que estranhos acreditassem na vossa palavra, quando desmentis com os atos a doutrina que pregais?”

(LE - PARTE 3ª - CAPÍTULO II)

quinta-feira, 5 de março de 2009

ALÉM DA MORTE

Cumprida mais uma jornada na Terra, seguem os Espíritos para a pátria espiritual, conduzindo a bagagem dos feitos acumulados em suas existências físicas.

Aportam no plano espiritual, nem anjos, nem demônios.

São homens, almas em aprendizagem, despojadas da carne.

São os mesmos homens que eram antes da morte.

A desencarnação não lhes modifica hábitos, nem costumes.

Não lhes outorga títulos, nem conquistas.

Não lhes retira méritos, nem realizações.

Cada um se apresenta, após a morte, como sempre viveu.

Não ocorre nenhum milagre de transformação para aqueles que atingem o grande porto.

Raros são aqueles que despertam com a consciência livre, após a inevitável travessia.

A grande maioria, vinculada de forma intensa às sensações da matéria, demora-se, infeliz, ignorando a nova realidade.

Muitos agem como turistas confusos em visita à grande cidade, buscando incessantemente endereços que não conseguem localizar.

Sentem a alma visitada por aflições e remorsos, receios e ansiedades.

Se refletissem um pouco perceberiam que a vida prossegue sem grandes modificações.

Os escravos do prazer prosseguem inquietos.

Os servos do ódio demoram-se em aflição.

Os companheiros da ilusão permanecem enganados.

Os aficionados da mentira dementam-se sob imagens desordenadas.

Os amigos da ignorância continuam perturbados.

Além disso, a maior parte dos seres não é capaz de perceber o apoio dispensado pelos Espíritos superiores.

Sim, porque mesmo os seres mais infelizes e voltados ao mal não são esquecidos ou abandonados pelo auxílio divino.

Em toda parte e sem cessar, amigos espirituais amparam todos os seus irmãos, refletindo a paternal Providência Divina.

Morrer, longe de ser o descansar nas mansões celestes ou o expurgar sem remissão nas zonas infelizes, é, pura e simplesmente, recomeçar a viver.

A morte a todos aguarda.

Preparar-se para tal acontecimento é tarefa inadiável.

Apenas as almas esclarecidas e experimentadas na batalha redentora serão capazes de transpor a barreira do túmulo e caminhar em liberdade.

A reencarnação é uma bendita oportunidade de evolução.

A matéria em que nos encontramos imersos, por ora, é abençoado campo de luta e de aprimoramento pessoal.

Cada dia de que dispomos na carne é nova chance de recomeço.

Tal benefício deve ser aproveitado para aquisição dos verdadeiros valores que resistem à própria morte.

Na contabilidade divina a soma de ações nobres anula a coletânea equivalente de atos indignos.

Todo amor dedicado ao próximo, em serviço educativo à Humanidade, é degrau de ascensão.

* * *

Quando o véu da morte fechar os nossos olhos nesta existência, continuaremos vivendo, em outro plano e em condições diversas.

Estaremos, no entanto, imbuídos dos mesmos defeitos e das mesmas qualidades que nos movimentavam antes do transe da morte.

A adaptação a essa nova realidade dependerá da forma como nos tivermos preparado para ela.

Semeamos a partir de hoje a colheita de venturas, ou de desdita, do amanhã.

Pense nisso.

Redação do Momento Espírita, com base nos caps. 1 e 16, do livro
Além da morte, pelo Espírito Otília Gonçalves, psicografia de
Divaldo Pereira Franco, ed. Leal.
Em 09.02.2009.



fonte: http://www.momento.com.br/exibe_texto.php?id=1108